terça-feira, 16 de novembro de 2010

Alusão



A exposição —como facilmente se calcula— tinha que chegar ao fim. Acabou quando estava previsto.
De qualquer modo, ficam as imagens, porque são o que perdura para além do momento... E a mensagem também é transversal; podendo, uma e outras, permanecer no espaço; como se fossem, sempre, personagens de uma mensagem que não anunciava nada: apenas a sua existência —deixêmo-las, então!...
… Daqui, de onde divago sem mistério, saio sempre no desejo de regresso, porque o momento é momento de monólogo, tornado, o diálogo, uma coisa esquisita; espécie de ferramenta de superações perversas, de disputas vazias, esquecida a procura da realização pura, sem que haja outra... chegada a confirmação de suspeitas que sempre tive, ideias que apareceram e se desenvolveram e que, quase à revelia, me foram dando conta do futuro:

Sem paixão, meu querido, é a ruptura!

–O que sempre me têm dito; aquilo que, informado por elas, eu sabia, mesmo sem ter a certeza de se era assim: mentindo, a Humanidade vai sendo conduzida, de logro em logro, de verdade em verdade, até que, possivelmente, se extinga.

Digo que chamam crise aos reflexos de uma Espécie enredada nos excessos de avidez, de conquistas e perpetuação de privilégios estúpidos e espúrios; do desenvolvimento que lhe permite, agora, entender quanto se aproxima do retrocesso, porque a matéria se tornou um veículo de espíritos ensandecidos, equivocados, com os mapas trocados na procura da transcendência, porque a tecnologia tem sido desenvolvida na proporção semelhante àquela a que tem regredido o Pensamento, deixando-nos essa visão, esplêndida, do design sem eficácia, por inconsequente… A Pintura, como a paixão, sobrevive…

Chegou, também neste âmbito e enfim –pelo menos, parece–, o tempo de esclarecer dúvidas. A Arte, favorecendo indústrias, não é uma indústria, é um espaço de raciocínio e de aprendizagem; de expressão de sentires, onde cada autor, actor ou intérprete, se obriga a compreender-se e a compreender os domínios, estabelecendo a diferença entre o acto inteligente e a incontinência, qualquer que seja o discurso, o qual há-de ser, estou certo, a porção visível e tangível de uma filosofia –faz sentido que lhe chamem conceito...

Poderia celebrar o tempo, denunciando as peripécias do desgoverno; os actos e as construções de gente miserável que invade, que usurpa e que cria ambientes irrespiráveis, prometendo e procurando, entretanto e em conluio, o reforço da democracia –coisa que não existe em lado algum. Prefiro celebrar o Tempo, espaços e verdades que não me mintam…

Permaneço onde sempre estive, deste lado da história. Continuam a enlevar-me alguns trechos de lugares e de gente, composições, ao todo; o jogo sensual da luz e da sombras, mesmo que do meu prazer pareça sobressair qualquer drama, porque haja luzes, estridentes ou roucas, com todo o ar de aflitas. São horas, admito, que aludem ao efémero, às demoras curtas; havendo, no entanto, a lembrança de alvoradas que ainda existam, por serem alvoradas que procuro, mesmo se com ar de crepúsculo –há, nos crepúsculos, a maturação das madrugadas… e de outros crepúsculos…